lunes, 2 de julio de 2007

..`na terra em flor...´

27/10/2006
"...que na terra, terra em flor
haverá amor,
e no céu, céu de anil,
haverá explendor..."
A sede e os ensaios da Hora da Criança passaram para um enorme salão, que ficava em baixo do palco do Teatro do Instituto Normal, no Barbalho. Enquanto o professor Adroaldo lutava por conseguir um terreno para construir um teatro-sede. Depois foi montado ‘Enquanto nós cantarmos’ e ‘Monetinho’, no mesmo Teatro. Na primeira eu era o ‘Menino vadio na floresta’, e em ‘Monetinho’ fui o ‘Conselheiro Bonifácio’ que lutava contra o Conselheiro Malefício. O elenco era sempre de quase 200 pessoas... Ainda usávamos calças curtas...
Ali apareceu uma outra figura pra abrir minha cabeça: Paulo Gil Soares, poeta, existencialista, que era amigo de Glauber Rocha, e assim logo conheci o Glauber.
Também freqüentávamos o atelier do pintor Raimundo Oliveira, que ficava no segundo andar de um edifício ali no Corredor da Vitória, nas Mercês... No fundo do corredor, aquela porta pintada com uma enorme Nossa Senhora, em amarelo e dourado, com traços negros... O Raimundo tinha uma cabeça grande e falava pausado, nesse tempo fazia desenhos, e com ele aprendi a ‘técnica de lavagem’.
Foi após um ensaio, que conheci a atriz Jurema Pena, e ficamos daí em diante, muito amigos por toda nossas vidas. Ela viria ser mais tarde um dos expoentes do teatro baiano e pessoa importante na minha carreira artística teatral...
Aos domingos, após o programa, íamos ao Cine Liceu ver as sessões do Cine Clube da Bahia (cinema de arte, todo o novelle vague francês, o neo-realismo italiano...), ou assistir a missa das 11 horas na igreja de São Francisco.
Para ir aos ensaios, quase que diários, as vezes eu subia a interminavel ladeira da Agua-Brusca, que hoje eu a olho e puta-que-pariu, nem acredito que fazia esse milagre... E quando terminavam, sempre às 20 horas, e nosso passatempo era vir andando de lá do Barbalho até o centro da cidade, fazendo as mais incriveis peripecias: desligavamos a navalha de luz das casas com aniversarios, 'pongavamos e despongavamos' nos bondes, e uma vez metemos um jegue num elevador de um edificio e o mandamos pro 5o andar... Não havia televisão ainda, mas muita fome de cultura, muita leitura, muito papo, muito `trocadilho´, muito riso, muita troca de informação, depois cada um pra sua casa...

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