martes, 3 de julio de 2007



..outra que tambem alfineta a classe alta:
Mercedes Soza, a cantora argentina..

ela é mâe de um amigo, que tem uma pousada em Buzios...

Canecâo - Rio - 1990

Porque "Je vous salue Gabeira..." - 2

27/06/2007
Paralelamente naquela tarde, a Fernanda, o Roberto e outros alunos do curso, estavam fazendo provas de Historia da Arte com a Beth Rabete, quando entrou na sala o Érick Nilsen para avisar que a Polícia Federal havia cercado a escola para impedir a exibiçâo do filme! Claro que toda a garotada ficou assustada e apreensivos... Viviamos como nos brabos tempos da repressão. A Bia, uma amiga de sala e filha de um torturado político, se conservou junto a Fernanda e nervosíssimas, viam os policiais invadir a escola à paisana: eram alguns disfarçados de `garotões´ e outros de terno e gravata... Anoiteceu, e nem a minha amiga Fernanda, nem ninguém, ainda acreditava no que estavam vivendo.
Cheguei na CAL, e vi todo aquele burburinho, mas na minha santa inocência pensei que era gente interessada em ver o filme... O elevador estava enguiçado.. Subi todos aqueles degraus, tinha gente por todo lado... Consegui encontrar a Fernanda que me contou o que estava de verdade acontecendo... Ah meus deuses, me lembrei dos meus tempos de UNI, do CPC, das correrias de 68...
Quase na hora do "evento", muitos jornalistas, fotografos, e quase todos os grandes nomes da arte estavam presentes na sala do segundo andar da Cal, e onde só caberiam espremidos umas 100 pessoas, havia umas 300 ou mais! Parecíamos lata de sardinha, e os federais fechando com seus corpos todas as portas antigas daquela sala. A Bia com início de pânico apertava o braço da Fernanda, que continuava achando que era tudo uma ilusão...
Mas, o que seria tão grave pra Igreja Católica fazer tamanho alvoroço, e a Policia provocar esse aparatoso e exuberante movimento repressor? Seria justamente aquilo que qualquer estudioso de teologia sabe?
Então, do alto da arquibancada onde estávamos espremidos, sob aplausos, a sala escureceu, e a exibição começou... e logo em seguida, a tela improvisada onde a película era projetada começou a tremer! Eram outros federais invadindo a sala por outro local para prender o Gabeira e pegar o filme. Acenderam parte das luzes, e naquela balburdia sumiram com a cópia antes que a federal pegasse, mas prenderam o Gabeira. Tumulto total! Será que iriam prender outras pessoas? Pânico geral! Nem pensamos, pulamos do alto da arquibancada lá embaixo e saímos espremidos no meio da turba apavorada... Nos perdemos do Roberto, e descemos correndo pelas escadarias da CAL, por onde achávamos que não iriam passar e paramos no portão lá de cima, perto do bondinho de plano inclinado. Pois não é que eles fizeram justamente o mesmo trajeto nosso? Quando perto do portão, olhamos para cima e Fernanda disse: `estamos em Hollywood!´, estávamos abismados pela quantidade de flashs que pipocavam registrando a prisão do Gabeira. Escoltado, êle passou rente a nós, e a Fernanda atrevida disse pra ele: "É ISSO AÍ, GABEIRA!" Ele bateu na mão dela, sorriu e seguiu levado pelos agentes da Policia Federal. Todo o pessoal (brasileiros!) que ali estava desceu atrás cantando 'JÁ PODEIS DA PÁTRIA FILHO, VER CONTENTE A MÃE GENTIL. JÁ RAIOU A LIBERDADE, NO HORIZIONTE DO BRASIL..."
Foi de arrepiar viver aquela emoção nunca imaginada no final do século XX, num Brasil onde já se dizia que a ditadura não existia mais. Pois a dita foi dura e Gabeira preso mesmo, e depois solto.
Ficamos com esse registro na nossa memória. Outro dia, conversando a Fernanda me lembrou disso tudo... Oh noite.. Obrigado Fernanda!
Esse caso serve pra puxar um outro: a Fernanda, como eu, e outros atrevidos, sempre estivemos vivendo momentos de turbulência dentro da sociedade formal...Há poucos anos, quando ela evidenciou um grande potencial mental através do Budismo, lhe ameaçaram de morte e até lhe internaram num hospício para ficar desacreditada. Pobre raça humana, mas não conseguiram segura-la por muito tempo. Quando voltou ao Rio quase desistindo de sua crença budista, sentada numa pizzaria do Recreio, de uma família que nunca tinha visto antes e que estava sentada perto dela, ouviu sem mais nem menos: "NÃO VENHA ATRAPALHAR A PROCISSÃO!". Aí é que ela se decidiu realmente voltar a praticar, e viver na fé de Buda.
Então, sei muito bem o que significa isso... Continuemos com nossas crenças, que ninguém, nem hospício e nem polícia federal poderá nos tirar: VAMOS SEMPRE ATRAPALHAR AS PROCISSÔES!
Hoje, depois de fazer de tudo em artes estou em Madrid curtindo um exilo voluntário; Fernanda Lobo fez teatro e TV, definitivamente passou a ser budista e vive feliz em Cataguazes; Fernando Gabeira é Deputado e sempre alfinetando o governo; e o filme `Je vous salue Marie!´ virou uma referencia e é encontrado em qualquer locadora... Graças aos deuses!!!
Boa noite, boa sorte e liberdade de para todos nós...

..com a "Araca"... Lembram da Aracy?

eu gostava de papear com essa dificil figura..
tinhamos coisas parecidas... ela que carregou o estigma de Noel por toda vida...
Cafe Concerto Rival - 1986

"Je vous salue Gabeira!" - 1

25/06/2007
Em 1986 o meu amigo Roberto Pallu resolveu embarcar na vida dos palcos e fazer o curso de teatro na CAL (Centro de Artes de Laranjeiras), e por meio dele conheci alguns de seus colegas de classe, entre eles a Fernanda Lobo.. Era uma garotona cheinha, sempre muito simpática e de bom papo, esotérica, cultuava essas coisas misticas.. Reencontrei a Fernanda através do Orkut, e entre conversas relembramos uma certa noite...
A CAL ficava num bonito e antigo palacete dos anos 40, num alto cercado de arvores, quase isolado do resto do casario na sua frente; tinha o portão principal na rua das Laranjeiras, suas escadarias e um elevador inclinado, que levavam ao portão lá em cima no jardim do solar...
Um dia o Roberto me avisou que o Fernando Gabeira, ousadamente, atrevidamente, iria promover na noite seguinte uma exibição do filme `Je vous salue Marie´ na CAL! Era um filme francês do ano anterior, dirigido por Jean-Luc Godard, que embora apoiado pela critica, vinha causando poêmicas e estava execrado pela Igreja Católica, porque a película modernamente tratava da falsa virginidade da `virgem´ Maria...
Aliás, para informação: sabiam que só em 8 de dezembro de 1854, foi `decretado´ pelo papa Pio IX (querem o texto da bula?) o dogma da Imaculada Concepção - ou como dizemos: Conceição, sem que ninguem se ligue na concepçâo da palavra, e ficou daí em diante esse dia do ano como o dia de N.S. da Conceiçâo (Concepçâo...)... Ou seja, só 19 séculos depois do seu nascimento e do seu parto prodigioso, que a honra de Maria foi colocada a salvo das duvidas e murmúrios, quando a Igreja `resolveu afirmar oficialmente´ que a sua `pureza´ antes e depois do parto, não era uma suposição teológica e sim, uma dádiva unica de Deus!!! PODE? Virginidade por decreto papal!
Naturalmente, que a Censura Federal, num país que sempre baixou as calças e entregou o trazeiro ao Vaticano, proibiu o filme no Brasil!
Eu não podia perder essa oportunidade de conhecer esta obra e participar dessa atitude audaciosa...
Morando em Copacabana, naquela tarde me preparei pra chegar mais cedo na CAL e conseguir um bom lugar, e quem sabe, até bater um papo com o Gabeira, a quem todo o país admirava pelo que contava no seu livro `O que é isso companheiro?´... E saí pra lá muito ansioso...

Bilhete de Helmut Berger num guardanapo de papel da boite Number One!
Rio - 1973

Minha noite com Helmut Berger...

20/11/2006
Eu atuava no Number One todas as noites de quarta a domingo. Mas numa terça feira, apareceu por lá a Noelza Braga, a Gigi Caravaggio mais a Ionita Guinle com um grupo de amigos, trazendo pra me ver o Helmut Berger! Ficaram desolados por não haver função, ficaram um pouco e se foram. Eu só vim saber dessa visita no dia seguinte, quando recebi o recado explicando tudo num cartão de visitas que até hoje tenho guardado... Fiquei com uma pena, havia perdido a oportunidade de conhecer de perto um dos meus ídolos, um astro que trabalhara com Dirk Bogarde em 'Deuses Malditos', sob a direção de Luchino Visconti! Como esquecer aquela cena em que seu personagem fazia completamente drogado a imitação de uma cantora de cabaré, vestido num espartilho, para escândalo da família... Ai que pena!
Mas, para surpresa minha, duas noites depois me apareceu entre a platéia da boate o Helmut com um amigo!
Foi um show lindo e entregado como sempre, e ao final, recebi no camarim um recado do artista, escrito num guardanapo de papel! O Mauro Furtado, proprietário da casa, sentia-se felicíssimo que o grande astro havia aplaudido meu show e prometido voltar...
E voltou! Na noite seguinte, e com o mesmo acompanhante! Após o show, mandou convidar-me a sua mesa... Bebíamos whisky e ele falava um inglês enrolado e eu não entendia praticamente nada, mas as entrelinhas eu ‘entendi’ tudo...
Terminei indo para o Copacabana Pálace com ele... E mais não conto...

E precisa?...

Quem lembra?
o ator Marcos Nanini, eu, e Tuca, a maravilhosa e gorda cantora-compositora paulista...
Rio - 1974

Mick Jagger, Janis Joplin, Ravi Shankar, Michael Jackson... todos eles a menos de um metro de mim... 4

15/11/2006
Ainda em 74, em Sampa, vivendo na casa de Gilson, uma manhã, eu que andava enturmado com o pessoal da imprensa, recebi um telefonema da redação da Folha de São Paulo, convidando-me para acompanhar um jornalista que ia entrevistar o Jackson Five! O grupo americano que era uma versão negra dos brancos ‘The Osmonds’, iría se apresentar em São Paulo no Ibirapuera! E claro que aceitei, e fui!
Os ‘blacks’ estavam vindo de um show no Rio de Janeiro, onde uma noite estiveram na boate 706 onde cantava o meu amigo Emilio Santiago... Na tal entrevista coletiva havia uns dez jornalistas, a maioria completamente ignorante de quem eram os Jackson Five, na naquele instante suas únicas musicas conhecidas eram ‘Go to be there’ e ‘Ben’, e as perguntas que eram feitas saíam as mais bobas possíveis, deviam ser 'estagiarios', aqueles que as redações mandam pra entrevistas sem valor... Na nossa frente estavam os cinco negrinhos, entre eles o Michael com 15 anos, e mais o pai, empresário que fiscalizava tudo com um excessivo zelo por seu patrimônio!
Eu sugeri ao meu amigo perguntar se era verdade que estavam preparando a irmã menor para substituir o Michael, que estava em fase de crescimento e mudança de voz, já não alcançava os agudos dos falsetes... Coisa que foi negada veementemente pelo pai... Não durou nem uma hora a entrevista boba e chocha: não havia perguntas...
Um dos produtores do show era o Koski, que eu conhecera por intermédio do Guilherme Araújo, que mais tarde juntos produziriam o Rocky Horror Show.
No Rio eu não sei como foi, mas em Sampa o show do Jackson Five foi um fracasso! Na tarde do espetáculo não chegaram a vender 300 ingressos, saí com o pessoal da produção, e juntos de dentro de um carro, atirávamos ingressos pelas ruas de São Paulo: completamente grátis, para que tivesse um publico razoável. Mesmo assim, não tiveram nem ‘meia casa’ de lotação! Mesmo assim, o grupo incrivelmente profissional fez um show mecânico que durou exatamente 45 minutos: cantaram e dançaram com a técnica de sempre... E tudo regido e controlado pelo pai, de dentro dos bastidores, onde eu me encontrava também...
O Jackson Five acabou e tentou levantar cabeça nos anos 90 com um disco insípido produzido pelo irmão famoso e independente, o Michael Jackson, de quem sou fã incondicional, o maior astro pop de todos os tempos, pois sei muito bem separar o artista da pessoa, e que de historias recentes não preciso recordar-lhes...
Foi assim que eu conheci o Jackson Five e tive o Michael Jackson a menos de um metro de mim...
.....................................
De repente, descubro que nessas historias existe um denominador comum, o meu amigo Gilson Rodrigues e Luis Fernando! Este há muito saiu do Brasil morou em Barcelona e agora vive em Paris. O Gilson é um dos artistas plásticos de maior sucesso em Salvador, onde alem de pintar está sempre criando coisas para artes cênicas, e vive de frente pro mar num apartamento lindo na Boca do Rio, e onde tenho o prazer de passar horas super agradáveis quando vou a Bahia...

..Caetano, Gilson Rodrigues e eu,
sempre BONS amigos, num laçamento literario...
Salvador - 1996

Mick Jagger, Janis Joplin, Ravi Shankar, Michael Jackson... todos eles a menos de um metro de mim... 3

12/11/2006
Em 1974 eu estava fazendo temporada em Sampa na Boate UP’S e mais shows peãs cidades vizinhas. Cansado de viver só no hotel que me tinham reservado, passei a morar no apartamento de Gilson Rodrigues, na Brigadeiro Luis Antonio... Sampa era uma loucura de noitadas... Comíamos em restaurantes chineses, ou no Baby-Bife no Arouche, o cafezinho da esquina da Ipiranga com a São João, os boys da praça, os shows na Homo-Sapiens, freqüentávamos o Medieval, e ali conheci o Clodovil, de quem cheguei a visitar muitas vezes o seu atelier de costura... Ah, a Paulicéia desvairada...
Gilsito tinha naquele apartamento o seu atelier de desenho e pintura, e já gozava de certo conhecimento e prestigio. Uma tarde chegou radiante: tinha sido convidado a fazer a ambientação cênica do show de Ravi Shankar! Um reboliço, este era o mais importante musico indiano do momento, famoso por participar do movimento hippie, havia participado do Festival de Woodstock, do Bangladesh... Foi ele que ajudou a popularizar a musica indiana... Era o guru dos Beatles, principalmente do George Harrison... E eu não podia perder esta! E na semana seguinte acompanhei Gilson ao Teatro Municipal de São Paulo, para preparar a decoração. E no terceiro dia, ali no palco, sob a tenda projetada por Gilson, em cima do praticável, sobre um tapete, estava na sua pose característica de pernas cruzadas, ensaiando, o Ravi Shankar! Durante meia tarde, gozei do prazer de ver e ouvir a cítara impar de um gênio, tocando praticamente pra mim...
Ainda hoje, a música de Ravi Shankar continua bastante viva para mim. Algumas vezes nos meus momentos tranqüilidade, fecho os olhos e busco a paz ouvindo a musica exótica que vem daquela cítara divina, dentro da meditação, e assim afugento durante instantes todo o horror que a atualidade me rodeia... Hoje sei que a arte de Shankar será perpetuada: o som da Índia por sua filha Anoushka Shankar, a influencia ocidental pela outra filha cantora respeitada de jazz, Norah Jones... Mas, eu presenciei Ravi Shankar a menos de um metro de mim!

..o meu amigo Serguey...
Boite do Meridien - Rio - 1991

Mick Jagger, Janis Joplin, Ravi Shankar, Michael Jackson... todos eles a menos de um metro de mim... 2

11/11/2006
Em 1970 eu estava na CBS e num dia de fevereiro, descendo a escada que dava no hall, deparo com o Coutinho (o 'relações publicas' e um grande amante de jazz.) entrando com uma mulher feia, meio gordinha, vestida de 'hipponga': lenço na cabeça, óculos Ray-ban, uma bolsa bandoleira a tira cola e sandálias. O Coutinho gentilmente me apresentou: era Janis Joplin! Não liguei muito por que nem me lembrava quem era essa cantora americana. No dia seguinte é que me liguei no fato. Eu tinha o disco dela com o Big Brothers, cantando Sumertime! Era demais!... Passei a duvidar. Dois dias depois encontro o Coutinho no corredor do estúdio, e ele me conta que a Janis foi à joalheria H. Stern comprou um anel de brilhantes e até chegar ao hotel, perdeu o anel!
Dias depois fui passar o carnaval em Salvador e ali fui informado que o Coutinho a levou ao Baile do Teatro Municipal, que era o baile de Carnaval mais chique do Rio, basta dizer que só se entrava fantasiado ou a rigor... E na porta teve problemas por que não queriam deixá-la entrar, porque pensavam que era um travesti! Claro, imaginem: feiosa e com aquele monte de cabelo no sovaco...
Logo depois do carnaval, novamente no atelier de Gilson Rodrigues, fomos convidados pelo Luis Fernando, que estava com mais amigos, a descer ao mulherio para buscar quem? A Janis Joplin! Claro que descemos descrentes e curiosos...
Estava lá sentada, conversando com as putas e bebendo cachaça! As 'meninas' encantadas com a americana louca, que gargalhava, puxava ‘fuminho’ e soltava palavrões, na maior intimidade... Ela tinha ido parar na Bahia, viajando de motocicleta com o namorado Mick, um fotógrafo carioca, e estava chateadíssima por que chovia muito, e ela estava louca para transar de noite na praia, e a chuva impedia. Não sei o que aconteceu, que o tal Mick voltou ao Rio e ela ficou sozinha em Salvador... Como foi parar nesse puteiro eu também não sei, mas ela estava bêbada e satisfeitíssima.
Foi quando apareceu o divulgador da CBS, que avisado (por quem?) foi ali para levá-la ao Hotel da Bahia. Sumiu a jaqueta Jeans dela e foi um fuzuê... Finalmente a jaqueta apareceu, e seguimos todos em passeata acompanhando-a com aquela garrafa de ‘Jacaré’ na mão, até a portaria do Hotel... Outro escândalo: o cara da recepção não queria aceitá-la por que estava suja, e com uma figura de hippie não muito agradável, e Janis aos gritos: “I’m Janis Joplin, I have money!” e jogou pacotes de dólares no balcão... Foi pior, o cara achou que ela era louca e não aceitou mesmo... Vingativa, ela não satisfeita, jogou a garrafa de cachaça no espelho e quebrou-o! E assim ela foi se hospedar em outro hotel... Que aventura...
Daí, eu voltei ao Rio e não mais vi Janis. Mas soube que ela voltou ao Rio fazendo 'stop-car' e tranzando com caminhoneiros... Verdade?
Anos depois surgiu outra historia dela numa aventura que conta o Serguey... Pode ser que tivesse seus momentos calmos, mas vivia intensamente, e era uma maravilhosa cantora, desbocada e louca de pedra... Ah, isso era... Quase no final deste ano, em outubro, foi encontrada morta por over-dose... Mas, eu tive Janis Joplin a menos de um metro de mim!

..nesse dia... recordar é viver...
Alto do Corcovado - Rio - 1973

MIck Jagger, Janis Joplin, Ravi Shankar, Michael Jackson... todos a menos de um metro de mim... 1

09/10/2006
Um dos lugares que eu mais gostava em Salvador, era a rua do Sodré, com seus casarões. Lá no seu começo, no Cabeça, estava a boate Anjo Azul, um lugar apertado, onde se reuniam os gays mais snobs, intelectuais y artistas, pra tomar ‘xixi de anjo’, uma bebida boba servida em piniquinhos de barro... Descendo a rua, estava o colégio Ipiranga no prédio onde morreu o poeta Castro Alves, e um pouco mais abaixo estava o convento de Santa Tereza, abandonado, e hoje é o Museu de Arte Sacra da Bahia, que logo depois da sua inauguração em 1959, causou um zumzum nos meios intelectuais e entendidos por que ali estranhamente os funcionários eram todos mulatos! Não havia nem brancos, nem pretos... Apenas, e só, mulatos! Que, segundo comentavam as más línguas, eram ‘escolhidos a dedo’ pelo próprio Dom Clemente, monge beneditino e administrador do museu, e que também às vezes ‘fiscalizava os banhos’ dos funcionários... Boas razões havia de ter...
Mais em baixo, aquela rua desembocava numa zona de mulheres da vida... Nessa rua, tive dois encontros memoraveis.
Com a inauguração do museu, vários artistas plásticos montaram nessa rua e adjacências os seus ateliês, entre eles ali estava Gilson Rodrigues e Luis Fernando... Sempre recebendo amigos, e que tardes...
No principio de 1968, eu que nesse tempo vivia envolvido com musica, pintura e teatro, uma tarde passei pra visitar o Gilson e ele me diz: “vamos descer criatura, que Luis Fernando tem uma surpresa...” Era verdade! Ao chegarmos no atelier de Fernando, lá estava como se nada, ele: Mick Jagger em pessoa, sentado numa poltrona folheando uma revista de arte, com as pernas enrodilhadas de um jeito que até hoje, juro que eu só vi Caetano fazer igual! Também estava lá a Mariane Phaitifull e a filha pequena meio chorona, e mais umas três ou quatro pessoas. Eu não falo inglês... O que mais me chamava atenção no cantor dos Rolling Stones era a sua boca: enorme, carnuda, com uns beiços onde ele ficava dedilhando e fazendo um som engraçado... Ouvi a conversa deles, sobre coisas bobas, da beleza do Reveillon no Rio, queriam ir a um candomblé, comer comida baiana... queimou-se o baseado de praxe, e a tarde passou ligeira... Não, ninguém tirou fotos desses momentos únicos... Hoje me contam que o Keith Richards também estava em Salvador, esse eu não vi... Também me informaram que os tambores do candomblé impressionaram tanto ao Mick, que lhe provocou compor o ‘Sympaty for the Devil’... Seria verdade? Não sei, mas com certeza, eu estive com Mike Jagger a menos de um metro de mim...

..45 anos de amizade... Uma vida!
Patio de Conde Duque - Madrid - 2006

Sim, sou parceiro de Gilberto Gil!

27/10/2006
Em abril e maio de 1965, Gilberto Gil estava fazendo no Teatro Vila Velha, sob a direção de Caetano Veloso, o seu primeiro show sozinho: ‘Inventario’... Nesse espetáculo, ele cantava também algumas musicas que fizera com outros parceiros: Yemanjá com Othon Bastos, Roda e Louvação feitas com João Augusto... Fui assisti-lo quase todas as noites. Na ultima semana de apresentações, quase no final do show, cantou lendo um papel no chão, uma composição da qual só tinha escrito o refrão, e que deveria se chamar ‘Procissão’... Fui pra casa com aquela musica na cabeça. Era a minha oportunidade de fazer algo para me facilitar a entrada nos shows do Vila Velha... E tanto revirei, que acabei escrevendo duas estrofes mais para a tal musica...
No sábado seguinte, dia 29 de maio, aconteceu o casamento de Gil com Belina. A festa de bodas foi á noite no Clube dos Oficiais ali no Dendezeiros. A presença de muitos artistas se fazia notar, Gil sempre foi muito querido...
Antes de ir-me da festa, chamei Gil e lhe mostrei o meu escrito... Ele cantarolou, viu que a tal letra encaixava justo na melodia, e guardando-a me disse: ‘assim que puder vou gravar, e se prepare vamos ganhar um dinheiro com essa musica!’ E assim fui pra casa cantarolando e a cabeça cheia de sonhos... Imagine, meu nome num disco!
Na semana seguinte, Gilberto Gil partiu pra São Paulo, onde iría trabalhar.
Aconteceu meses depois, o show ‘Arena canta Bahia’, com todo aquele pessoal do Vila Velha (menos Fernando Lona, que ficou muitíssimo sentido e se sentindo traído... foi trocado por Tom Zé), e esses artistas, cada um gravou um disco compacto, na RCA Victor... Praticamente, seus primeiros discos! No disco de Gil, estava lá: Roda – Gilberto Gil e João Augusto - e Procissão – Gilberto Gil! Meu nome foi completamente esquecido...
Alguns jornalistas de Salvador que sabiam da parceria, notificaram o lapso nas suas colunas... Em seguida, a musica entrou como tema do curta-metragem ‘Roda e outras canções, e no fotograma de relação de musicas, já constava meu nome! Em 1966, o Gil fez um show ‘Pois é’, com Vinicius de Morais e Maria Bethânia, no Teatro Opinião, no Rio, que fui assistir, e no programa que me autografaram, também aparece ‘Procissão’ – de Gilberto Gil e Edy!
Depois vieram outras gravações da musica, mas meu nome nunca apareceu... E isso mexia muito com minha cabeça...
Em 1967, Gilberto Gil foi a Recife com o show ‘Viramundo’. Eu estava tão puto da vida que nem fui ver, mas também estava fazendo “Memórias de 2 Cantadores" no Teatro do TPN, onde cantava Procissão e denunciava minha parceria... Uma noite apareceu por lá o Roberto Santana, empresário do Gil, se sentindo muito ofendido por que eu dizia ter parte na musica! Eu, hein? E justificou: ‘não sabíamos onde você andava, e não ia perder dinheiro por causa dessa bobagem!’ (SIC) Tudo bem...
O importante de tudo isso, que apesar da falta do meu nome nas gravações de ‘Procissão’, Gilberto Gil nunca negou esse fato e eu nunca ligava muito a direitos a receber, ou gerar uma possível discussão. Durante todos esses anos, sempre nos encontramos com a mesma alegria, a mesma festa, e tocávamos no assunto e ele me dizia: ‘aparece pra gente acertar isso, você tem coisa pra receber...’
Finalmente, praticamente agora, 40 anos depois, tudo já está resolvido. Já tenho um contrato com a editora, meu nome constará das gravações de agora por diante, e já posso dizer que sou de verdade parceiro de uma musica com Gilberto Gil...
Porem no site oficial de Gil, o meu nome ainda é invisível!

`..essas são as minhas menininhas,
todas elas bonitinhas,
que um dia descobri..
Quarteto em Cy!´
(Vinicius de Morais)

..com o Quarteto em Cy, y sua nova geração..
Teatro Rival - Rio - 1989

Acabou a Hora da Criança !

23/10/2006
"...Enquanto nós cantarmos
haverá Brasil...
Brasil!"
Logo depois da montagem de Monetinho, estava afim de outros planos, e assim, dei o fora dessa fase maravilhosa da minha vida.
Onde andará aquela gente?... Dos irmãos Arnon e Ângelo Roberto, o Ângelo que era um ótimo desenhista, o encontrei ha alguns anos numa festa do Bomfim, onde apareceu tambem a Zuleide Contreiras, sempre com seu ar nervosinho, a nossa poetiza 'Lagartixa Bate-a-Cabeça', estava vivendo em Brasília; os irmâos Raimundo e Reinaldo, este que chegou a casar-se com miss Bahia/Brasil Marta Vasconcelos; o pessoal da familia Brito, que uma das meninas casou-se com o professor Adroaldo (?); Civa e Cibele se juntaram as outras irmãs menores Cinara e Cilene, todas afinadissimas, e formaram o famoso Quarteto em Cy, alcançando o sucesso ao serem descobertas por Vinicius de Morais, sou fã assiduo dos seus shows; Paulo Gil chegou a ser assistente de Glauber, fez um curta-metragem premiado sobre o cangaço, terminou na TV Globo, morreu há poucos anos; o Jurandir Ferreira que me obrigava a dar passos largos pra ser mais macho, e tinha paixão por Marilyn Monroe e Marta Rocha, e que mudava o tom de voz quando tinha alguém desconhecido por perto, onde estará? o Mesquitinha, que usava óculos como eu, bonitinho e baixinho, com uma voz linda, uma das minhas primeiras paixôes (quantas vezes fugíamos do ensaio e íamos nos ‘divertir’ no escuro da arquibancada do campo de vôlei?)... Onde andarâo?
Hoje a ‘Hora da Criança’ é uma coisa esquecida ou desconhecida para os baianos. No terreno conseguido com muita luta para ser construído o ‘nosso teatro’, está lá o tal teatro, que funciona como uma espécie de escola, que, me informam, ensina gratuitamente a cerca de 100 crianças, alfabetização, teatro, coreografia, cenografia, etc... Ver para crer: fiz uma visita e que decepção: da “Hora da Criança” os que ali dirigem não sabem NADA! Não tem vivencia do que representou Adroaldo, nem de sua obra... Algumas coisas guardadas ou expostas em vitrines... Do acervo de suas pesquisas musicais ou de seu teatro infantil, tudo esquecido e não utilizado... As crianças que lá estudam são ignorantes do porque do nome da sua escola, ou da importancia que tudo aquilo foi para outras crianças agora homens e mulheres... Em nome do que representou aquele homem obstinado, lhe puseram título em algumas escolas de Salvador. E daquele programa, que desde 1943 ate meados dos anos 60 era uma referencia a infância baiana, algumas linhas em alguma pesquisa... Merecia melhor sorte e proteção... E assim mais uma memória vai pro beleléu...

lunes, 2 de julio de 2007


..com o `velho´Lua...

..depois de cantar tantas musicas dele na Hora da Criança, fui conhece-lo em Recife!

Programa Noite de Gala -
TV Jornal do Comercio - Recife - 1968

..`na terra em flor...´

27/10/2006
"...que na terra, terra em flor
haverá amor,
e no céu, céu de anil,
haverá explendor..."
A sede e os ensaios da Hora da Criança passaram para um enorme salão, que ficava em baixo do palco do Teatro do Instituto Normal, no Barbalho. Enquanto o professor Adroaldo lutava por conseguir um terreno para construir um teatro-sede. Depois foi montado ‘Enquanto nós cantarmos’ e ‘Monetinho’, no mesmo Teatro. Na primeira eu era o ‘Menino vadio na floresta’, e em ‘Monetinho’ fui o ‘Conselheiro Bonifácio’ que lutava contra o Conselheiro Malefício. O elenco era sempre de quase 200 pessoas... Ainda usávamos calças curtas...
Ali apareceu uma outra figura pra abrir minha cabeça: Paulo Gil Soares, poeta, existencialista, que era amigo de Glauber Rocha, e assim logo conheci o Glauber.
Também freqüentávamos o atelier do pintor Raimundo Oliveira, que ficava no segundo andar de um edifício ali no Corredor da Vitória, nas Mercês... No fundo do corredor, aquela porta pintada com uma enorme Nossa Senhora, em amarelo e dourado, com traços negros... O Raimundo tinha uma cabeça grande e falava pausado, nesse tempo fazia desenhos, e com ele aprendi a ‘técnica de lavagem’.
Foi após um ensaio, que conheci a atriz Jurema Pena, e ficamos daí em diante, muito amigos por toda nossas vidas. Ela viria ser mais tarde um dos expoentes do teatro baiano e pessoa importante na minha carreira artística teatral...
Aos domingos, após o programa, íamos ao Cine Liceu ver as sessões do Cine Clube da Bahia (cinema de arte, todo o novelle vague francês, o neo-realismo italiano...), ou assistir a missa das 11 horas na igreja de São Francisco.
Para ir aos ensaios, quase que diários, as vezes eu subia a interminavel ladeira da Agua-Brusca, que hoje eu a olho e puta-que-pariu, nem acredito que fazia esse milagre... E quando terminavam, sempre às 20 horas, e nosso passatempo era vir andando de lá do Barbalho até o centro da cidade, fazendo as mais incriveis peripecias: desligavamos a navalha de luz das casas com aniversarios, 'pongavamos e despongavamos' nos bondes, e uma vez metemos um jegue num elevador de um edificio e o mandamos pro 5o andar... Não havia televisão ainda, mas muita fome de cultura, muita leitura, muito papo, muito `trocadilho´, muito riso, muita troca de informação, depois cada um pra sua casa...

Há poucos anos, com Cyva e Cybele...
-'Eu vou embora pra Minas...
Ah eu vou ver minerá...
- Vou arranjar uma mineira para comigo casar...
- Que na Bahia num tem,
e em São Paulo não há...'
Café Concerto Rival - Rio

`Os meninos da Bahia, nessa Hora da Criança...´

16/10/2006
Eu tinha 13 anos... Vendo a minha disposição, o meu pai me inscreveu na Hora da Criança. Para os ensaios no Passeio Público, duas vezes por semana, tive que aprender a me locomover sozinho, me deslocava de bonde, pegava o 18 (Luis Tarquínio) ou 19 (Dendezeiros) e saltava no Elevador Lacerda, subia, e pegava outro bonde até lá. Foi ali que comecei a cantar e desenvolver minha veia artística, pois também tínhamos apresentações de teatro, e o programa tinha um hino:
"Os meninos da Bahia
nessa Hora da Criança
a mensagem da esperança
vem trazer com alegria"...
O diretor Adroaldo Ribeiro Costa era um professor e jornalista, um louco visionário que acreditava num teatro feito por crianças pra crianças, e dava um enorme valor ao mundo folclórico infantil. E havia as grandes montagens de operetas baseadas na obra de Monteiro Lobato, de quem Adroaldo era um grande admirador, repassando a nós essa admiraçâo. Quem foi daquele tempo pode lembrar com saudades das apresentações no Teatro do Instituto Normal, no Barbalho, com orquestra sob a regência do maestro Agenor Gomes, com sua filha ao piano, os cenários maravilhos do professor Zózimo, e um elenco de 150 a 200 crianças no palco... A menor tinha 1 ano e meio! Uma verdadeira loucura organizada, mas um grande sucesso de publico e critica. A primeira montagem que participei foi ‘Narizinho’, eu fazia o Major Agarra-e-num-larga-mais, um ‘sapo’ guardião do palácio das Águas Claras, e meu apelido dali em diante ficou sendo ‘Sapo’.
Lembro-me que veio uma caravana de São Paulo, comandada pelos Matarazzo, com amigos de Monteiro Lobato, para nos assistir, queriam nos levar a Sampa... Mas como? Um elenco de quase 300 pessoas! E quantas vezes dormi pensando nessa viagem..
E amigos dali? Havia o grupo principal, do qual comecei a fazer parte, eram Ângelo Roberto, seu irmão Arnon (que faziam a dupla Timbo e Tombo), Zuleide Contreiras, Eduardo Paim, Raimundo Mesquita, Indaiá Filgueiras, Jurandir Ferreira, e as irmâs Civa e Cibele... Eu freqüentava a casa delas lá no Jardim Cruzeiro, e até hoje me chamam de ‘Sapo’, que è tambem como me trata qualquer outro que encontro e pertenceu aos 'meninos' da Hora da Criança.. Muitos outros, que não me vem o nome a memória agora... Bons tempos...

Minha irmã, a neta da professoa, e eu...

Marchinhas, confete, pandeiro e lança-perfume...
Velhos carnavais, que não voltam mais...

Oh, que saudades que eu tenho da aurora da minha vida...

12/10/2006
Eu tive uma infância muito feliz, eu tinha um irmão e uma irmã, e sempre fomos muito unidos. Nossa casa tinha um quintal imenso, com muitas bananeiras, coqueiros e mangueiras, e ali era nosso mundo! Tínhamos um grande pé de araçá que em nosso imaginário era avião, as vezes bonde, ou marinete, que era como se chamava os ônibus em Salvador... As galinhas eram nossas amigas e conversavam conosco...
E as nossas festas? Nos Carnavais, nos fantasiávamos e tínhamos as nossas 'lança-perfumes' e confetes. Nas noites de São João acendíamos a fogueira no jardim, soltávamos fogos de artifício e balões, enquanto a musica alta vinda da sala nos trazia a voz de Luiz Gonzaga... No Natal, sempre dormi e perdia a Missa do Galo, mas ao acordar, nossos presentes estavam em baixo da cama, deixados por Papai Noel naturalmente...
Em minha casa tínhamos todo o tipo de revistas, líamos muito. Nunca nos faltou: pra criançada O Tico Tico, Edição Maravilhosa, Vida Infantil, etc, afora os Gibis que tomávamos emprestados aos vizinhos. Tínhamos a Revista da Semana, O Cruzeiro e Revista Globo para meu pai, Vida Doméstica para a minha mãe. Eram as leituras obrigatórias nas famílias informadas...
Aos 17 anos eu já tinha lido quase toda a literatura clássica juvenil, desde Alexandre Dumas a Érico Veríssimo, de Monteiro Lobato a Charles Dickens, de Alan Poe a Jorge Amado...
Além de ler outra coisa que sempre gostei foi desenhar! Enchia cadernos e mais cadernos com desenhos, e creio que sempre tive muito bom traço.
Ouvíamos como todo mundo daquela época, a Radio Nacional do Rio de Janeiro, a Radio Mayrink Veiga, e os programas locais da Radio Sociedade da Bahia, de onde ouvia todos os domingos as 9 horas da manhã o programa da 'Hora da Criança'.
Um fato importante que marcou e que me influenciou bastante musicalmente foram as visitas que fazíamos aos estúdios do programa A Hora da Criança, do Adroaldo Ribeiro Costa. Meu pai me levava, e eu morto de inveja ficava assistindo aquela meninada do outro lado do quadro envidraçado, cantando, fazendo novelas... Quando chegávamos em casa, com um microfone inventado e um palco improvisado no quintal, eu me punha a cantar para e com os meus irmãos e me achava o máximo, como a cantar para uma multidão...

..com o Jerry Adriani!

..show no Balbininho - Salvador,
conjunto acompanhante:
`Raulzito e seus Panteras´!

..meu `caso´ com Raulzito... 2

27/09/2006
Mas, no sábado seguinte, lá estava eu! E outra vez a mesma situação com o conjunto, e o mesmo sucesso! La Bamba era o hit do momento, e eu lhe dava um novo ar de frescura...
No final do programa, nos jardins da Radio, lá estava o Waldir Serrão conversando com o Raulzito, e ouvi quando este lhe passou o numero de telefone de sua casa. E tive uma idéia: resolvi fazer uma gozação com o Raul!
E assim fiz. Um pouco depois liguei pra casa dele, e falseando a voz, me passei por uma fã, dessas ardorosas, dispostas ‘a tudo’... E o papo foi longo, inclusive ‘baixando o pau’ em mim mesmo... E prometi ligar na outra semana... Assim seguimos... Todos os sábados, depois do programa eu ligava pra Raul e conversávamos como dois namorados... As conversas eram sempre as mesmas, da minha admiração por ele, pelo conjunto, da bicharia ‘daquele cantor novo’, coisas de Elvis, cultura de rock, etc... Um mês disso, até que Raul, não sei como, gravou a nossa conversa e mostrou pra o Waldir Serrão – Raul, você é bobo... Não está vendo que é Edy?
E Raul caiu na real! Neste sábado, chegou pra mim: Você está me sacaneando? Qual é a sua? E antes que tudo acabasse em porrada, tive que entrar numa explicação longa sobre nossa relação artística ali na Radio Cultura. A coisa ficou morna... Ensaiamos, e novo sucesso, nós éramos as grandes atrações do programa. Na saída, já houve um ‘tchau’ (tomei como um bom sinal)... Neste sábado não houve telefonema... Eu hein?
Daí por diante, conversávamos sempre... Eu brincava muito com as figuras dos rapazes do grupo, todos eles muito assediados pelas garotas: Carleba com seu nariz de batata, Eladio sempre muito serio, o Mariano, alto com um ar de mordomo inglês...
Nos meses seguintes, alem da Radio Cultura, fomos convidados a abrir os shows de artistas da Jovem Guarda que se apresentassem em Salvador, nos shows do ‘Balbininho’, de Roberto Carlos, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Wanderlea, Rosemary, etc. Chegamos até a nos apresentar em Feira de Santana.
E houve o show no Estádio de Futebol Antonio Balbino! Imaginem: uma caminhonete com uma plataforma em cima! Os músicos tocavam em baixo, e os artistas cantavam na parte de cima, enquanto o veículo rodava o Estádio... Uma loucura aquilo, de cima quase não se ouvia os músicos, e o publico só realmente ouvia, quando o carro se aproximava... Lembro-me que nesse dia, cantei uma versão de Raul pra Satisfaction dos Rolling Stones... Oh tempo bom!
Mas juro, nunca entendi, porque com tantos outros cantores roqueiros em Salvador, eu sempre fui o preferido dos empresários e de Raulzito...

..Oh Don Raulzito...

Juntos, da Radio Cultura da Bahia, pra todo Brasil...
Canecâo - Rio - 1988

..meu `caso´ com Raulzito... 1

27/09/2006
No principio dos 60, eu trabalhava em circos que estavam sempre nas praças de Salvador.
Mas aos sábados a tarde freqüentava o programa do Nilton Barbosa no auditório da Radio Sociedade, que ficava ali na Rua Carlos Gomes 57, naquele edificio magnifico. O ambiente lembrava os programas da Radio Nacional e, acreditem, tinha orquestra com maestro e tudo, e mais os ‘nossos’ artistas: Ray Miranda, Deny Moreira, Maria Célia, e outros... O violonista fantástico João da Matança, que fazia o violão `falar´ e provocava um alvoroço com o ‘Samba da Moçada’ de sua autoria... Tinha um baterista, um negro lindo, alto e forte, com um riso onde mostrava os dentes brancos lindos, o Cacau... Mas a grande sensaçâo era o Riachâo! que com sua toalha no pescoço y seus sambas provocantes, levantava o auditorio! Os comerciais, sempre na voz inconfundível de ‘Ubaldo Câncio de Carvalho”... Havia uma alegria imensa no programa... De freqüentador e vencedor de concursos de rock no auditório, passei a cantor...
Daí me levaram a ser apresentado a Pacheco Filho, que era um outro dono de programa diário nas tardes, na Radio Cultura da Bahia, o ‘Só para mulheres...’, e que aos sábados fazia também o programa de auditório. Essa Emissora ficava no Campo Grande, ao lado da `casa do bispo´, em um palacete dos anos 30 em meio a um jardim, que já nâo existe mais...
E fui convidado a participar cantando rocks e baladas da hora... O conjunto da Radio era mais pra samba: bateria, pandeiro, violão, piano... Mas havia um grupo de rock que já estava se apresentando lá, e que ficou decidido que por razões lógicas, iria me acompanhar: era Raulzito e seus Panteras!
Eu me lembrava de Raulzito vagamente do Elvis Rock Clube, nunca tivemos maiores amizades... Ele agora tinha um conjunto! E ali se apresentavam com musicas dos Beatles, Renato e Blue Caps, as musicas de grupo que estavam em sucesso... Nosso encontro foi frio e seco, Raulzito me tratou friamente, e debaixo dos risinhos nervosos dos meninos do conjunto me gozando, tomou ‘o tom’ e dei indicações do como queria a introdução e de como iría me apresentar... Pois sim...
Nós éramos as atrações do programa, entrávamos no final... Pacheco Filho anunciou ‘Raulzito e seus Panteras’, que se apresentaram primeiro, um delírio das moçoilas do auditório, gritinhos, faniquitos... Ao final da terceira musica de sua apresentação, Pacheco me anunciou... Começaram os acordes do baixo, entrou o ritmo, as guitarras, e eu bichíssima invadi o palco sacudindo os ombros: ‘Para bailar la bamba, para bailar la bamba se necessita...’ Nem conto o resto... O auditório veio abaixo! Todos de pé dançando! Gritos, aplausos que não acabavam mais... E eu ali, 'fechando'... Cantei mais duas musicas, e Raulzito e seus garotos encerraram o Programa... Foi tudo um êxito!
Pacheco Filho veio falar comigo: me queria a partir daquela data, todos os sábados, acompanhado pelo mesmo grupo... O que ele não sabia, é que Raulzito ficou puto da vida: ‘vamos ter que acompanhar aquela bicha louca...’
Fui pra casa pensando: nunca mais volto por lá...
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domingo, 1 de julio de 2007



Rocky Horror Show!

Teatro da Praia - Rio - 1975


Final da peça no ultimo dia de apresentação... A farra do `enterro´...
- da esquerda: o 3o (de cartola branca) é Wolf Maia, a morena é Edyr de Castro, a garotinha é Lucelia Santos, logo EU, a Turnbull, Claudia Sangirard, Zé Rodrix e Vera Setta.. Pra nunca esquecer...

o Rocky Horror Show - parte III, a vingança...

23/09/2006
Com o meu discarado proceder de colocar 'cacos' ofendi o 'coro dos certinhos'!
O Wolf Maia, que ja nessas alturas revelara a sua admiração por 'jovens talentos', ficou tiririca da vida! A `menina formada em teatro-sério-zona-sul´, num aguentou o tranco de teatro de revista.. E assim, subiu no salto, e realizou uma reunião de elenco contra mim, sob a alegação de que eu “estava destruindo a obra de Rubens Correia”! Eu hein? Qua.. qua.. qua.. (Rubens era o diretor, que naquele momento estava com problemas com a policia num país vizinho por porte de marijuana..).
Parte do elenco não estava nem aí pra esse tipo de colocação, o Zé Rodrix entre outros, achava graça dessa implicancia..
Eu também era um perigo.. E olha, que nem me ligava no Acácio, o ator louro que fazia o papel do Rocky, e no momento (comentava todo o elenco) era o caso...
Agüentei firme a rebeliâo a bordo, chamei Guilherme expuz o problema avisando: -“minha escola de teatro é outra, é Lapa e Mauá, eu sou do babado e se `ela´ vacilar dou-lhe uma porrada..” E Guilherme conciliador: ‘tudo vai se ajeitar, faça o que pedi... essa produção já está perdida, a única maneira de tentar salva-la é transformando em comedia.. Faça de seu jeito, não ligue.’ E assim nem dei bola pra falação de vizinhas e fui em frente..
Caí nas graças do elenco, que aderiram ao ritmo de 'rebolado' e até o Wolf meio a contra gosto aderiu, e nada mais aconteceu.
Todas as noites antes de começar a sessão, todos, artistas e musicos, davam seu ‘tapinha’... Muito 'incenso'... Fazia parte do regime atual...
Todo alenco terminou entrando no desvairio da chanchada, e começaram a curtir também toda aquela loucura.. Era divino o desbunde da Vera Setta e do Zé... Eram os 'cacos' mais loucos... Mas, tudo funcionava, o publico gargalhava... Missão cumprida.
Levamos em frente por 3 meses... Logo, a Lucélia Santos, pequenininha, com um riso solto (principalmente depois de um `tapa na pantera´...), saiu pra fazer novela na Globo, foi substituída pela Claudia Savaget com sua enorme cabeleira, e o papel de 'baleirinha' passou a ser 'baleirona'! Saiu Betina Viana, entrou Edyr de Castro, mulher de Zé Rodrix e futura Frenética... E houve outras mudanças..
Houve problemas com o dono do teatro - coisa que até hoje num entendi - que chegou a entrar numa sessão da obra de revolver em punho, dando tiros, e sendo manchete em todos os jornais.. Um escândalo! O Guilherme resolveu acabar a temporada, e remontar em São Paulo..

Fui ver. A montagem era completamente diferente, o Paulo Vilaça fazia o Frank, era um ótimo ator, mas lhe faltava físico, voz, glamour, e fisic-de-role... Tambem estavam no elenco o Antonio Biasi e a Lucinha Turnbull...
Uma pena... E como eu havia vaticinado, lá, também não deu certo...


-"..Oba, Oba, Já me apresentei?.. Eu sou um simples travesti, transexual, da Transilvania!"

Rocky Horror Show - Teatro da Praia - Rio - 1975


..a Savagett, Edyr de Castro, EU de Vampirão, Wolf Maia, a mocinha Turbull, e Vera Setta...

..o Rocky Horror Show - parte II, o retorno...

22/09/2006
Estava de volta a Salvador, completamente sem dinheiro... Tinha gasto tudo num tour pelo nordeste, dirigindo meu fusca e acompanhado do namorado daquele verão... De madrugada ao voltar a casa encontrei um telegrama de Guilherme Araújo: “venha imediatamente. Te quero no Rocky Horror urgente..”
Telefonei pra Guilherme, e ele me contou que 20 dias depois de estreiar no papel principal, o Eduardo Conde havia caído de hepatite, e me queria pra substitui-lo! Na minha situação pedi dinheiro emprestado a minha mãe, me despedi da família, entrei no fusca e rumei pra o Rio... Cheguei, e a tarde fui direto ao Teatro da Praia, em Ipanema, onde estava em cartaz o ‘Rocky Horror Show’!
Estavam ensaiando, pois houve troca de papeis pela necessidade de não parar o espetáculo: o Kal fazia o garotão bobo, papel que era do Wolf Maia, que estava fazendo o Vampirão (?)... Sentado na platéia encontrei meu amigo Serguei (um tipo estranhíssimo, roqueiro autentico, que eu adoro!) que estava ali tentando também conseguir o papel do Frank Father.. Mas o papel já estava comigo, sorry...
O Guilherme me conversou: - ‘ quero que você transforme essa peça numa chanchada! Eu vi a obra em Londres, o povo adorava... Ria, participava... Aqui, não acontece nada... Ninguém ri, ficam com cara de idiotas.. A única pessoa que consegue um riso, é único que não é ator: o Zé Rodrix... Você faça suas loucuras e dê um jeito nisso...’

- É, vamos ver o que se pode fazer, respondi, mas num quero problemas com o elenco... E disse-me ele -‘eu sei que você vai fazer o melhor..’
O elenco era uma coleção de atores de todas as variadas castas: Vera Setta, Betina Viana, Wolf Maia, Nildo Parente, Lucélia Santos, Zé Rodrix, e outros. Nada combinava com nada..
Ensaiei durante uma semana, um texto grande e dificílimo, cheio de nuances, e mais as musicas, que estavam em todos os ritmos de rock... E estreei!
A cena no laboratori do Vampirâo, o palco girou enquanto a bateria rufava, me voltei aos poucos pra platéia, abri a enorme capa negra, e de salto alto, espartilho e tapa-sex, uma cabeleira loira imensa e desgrenhada, eu era o Frank Father provocador: ‘Oba, oba, eu já me apresentei?’
E logo comecei a colocar meus ‘cacos’ e me divertir... Ah, meus deuses, fui uma ventania naquele palco...
Feri os brios dos pobres de espirito...

...Vampiro, Andrógino, Bissexual, Frank Father, Edy *...
Rocky Horror Show - Teatro da Praia - Rio - 1975
(Foto - Revista Fatos & Fotos)

Oh, o Rocky Horror Show - parte I, a missâo...

20/09/2006
No final de 1974, o Guilherme Araújo, uma figura maravilhosa de talento e inteligência, que eu amo, e já conhecia como empresário dos baianos Gil, Gal, Caetano e Bethânia, e dos Carnavais na Bahia, mandou me convidar para uma reunião no apartamento do produtor Kal Kosner... E lá fui eu, linda, curiosa...
O Kal era um jovem alto e bonitão, com um apartamento no Leblon decorado como uma tenda cigana... Lindos... O Kal e o ap...
Haviam outras pessoas lá. O negocio seguinte: tinham comprado os direitos do musical “Rocky Horror Show” do Richard O’Brien! E só viam a mim, para fazer o papel principal, do vampirão bissexual Frank Father! A produção seria do Guilherme e do Kal, a tradução era do Kal e do Jorge Mautner. Outras pessoas cogitadas para integrar a obra era Wanderleia, Zé Rodrix, Raul Seixas, Jorge Mautner, e outros artistas ligados ao rock... Tudo bem, a idéia me parecia um sonho.. Trabalhar com essa gente... Com esse elenco, seria um sucesso...
Levei o texto pra ler em casa... Aí, descobri que haviam traduzido, e não haviam feito uma adaptação ao espírito e cultura do Brasil.. Aquilo não podia dar certo.. Pô, a peça é toda feita em cima de citações, figurinos e clichês de cinema B, cult, e de terror... Quem é que no Brasil, se num for verdadeiro cinéfilo, que sabe quem é Fay Way? Que se lembra dos episódios de Flash Gordon? Da ‘Mumia’ com Boris Karloff? Da ‘Noiva de Frankstein’ com Elza Lancaster? De ‘O dia em que a terra parou’? de filmes classe B sobre ‘discos voadores’? E pensei: isso num vai dar certo..
Quando dias depois, Guilherme me chamou pra dizer que o diretor seria o seu amigo Rubens Correia... Aí, tive a certeza de que não iria funcionar.
Adorava Rubens, um ator e diretor da mais alta categoria, engajado e comprometido, mas.. pra dirigir ‘Rocky Horror Show’ era uma outra coisa, nâo era teatro de mensagem ou vanguarda.. deveria ser uma simples diversão, louca...
Entreguei o o roteiro, agradeci, e caí fora do projeto...
Meses depois, a obra foi estreiada... Do elenco pensado, só estava Zé Rodrix, o papel principal de Frank ficou com o vozeirão do amigo Eduardo Conde...
Outro dia li num site, que até o Tom Zé esteve nessa montagem... Eu, francamente, nunca soube disso...
Mas sabem, que o destino me colocou dentro daquele ‘Rocky Horror Show’? Pois foi...


..eu com Naná Vasconcelos, e o Trio Nordeste...

Programa Bossa 2 - TV Jornal do Comercio -

Recife - 1968

..onde se juntam os rios Beberibe e Capiberibe para formarem o Oceano Atlântico...

13/09/2006
Nos idos de 1965, numa noite de sexta-feira, no meu ‘show de Folclore’ na Galeria Bazarte, tive na platéia duas pessoas maravilhosas que se tornaram minhas amigas de toda vida: Disa Santiago e Leny Andrade!
Após o show, apareceu um convite para uma festa na casa do consul americano, y fomos todos pra lá.. E eu não parava de conversar com Disa e Leny, estava maravilhado com minhas novas amigas.. A festa era um verdadeiro manicômio, musica alta, danças loucas, muita bebida, e muita gente conhecida.. Claro que Nilda Spenser estava lá com um grupo de amigos, entre eles o Yan Sobansky e José Roberto.. Quase no final da noitada as pessoas aos gritos começaram a se atirar na piscina.. Jose Roberto apareceu com um litro de wisky roubado na cozinha, e resolvemos ir bebê-lo num bar furreca nas Sete Portas.. Yan tomou emprestado o fusca de Nilda, dizendo: ‘volto já e te levo em casa!’ Assim começou a loucura daquele fim de semana...
Entramos no carro, em meio a muita risada, eu, Yan (um polonês de quase 2 metros de altura, que calçava 47, e era técnico da Petrobras), Jose Roberto (um jovem empresário e bom vivent ), e mais Pitti, um compositor-cantor que iria estréiar como ator na sexta seguinte no Teatro Vila Velha..
Ao chegarmos no mercado da Sete Portas, apesar de ser madrugada, estava tudo lotadissimo... Resolvemos ir até um outro bar, na estrada, fora de Salvador, perto de Feira de Santana... O dia amanhecendo, e não lembro quem teve a leviana idéia “Vamos pra Recife”? Idéia aceita por unanimidade! Não tínhamos dinheiro, e nos valemos do cartão do Yan para pagar a gazolina.. Estrada.. Solzão... Uma alegria irresponsável...
Não me perguntem como, mas ao chegarmos a cidade nos instalamos no chiquissimo Hotel São Domingos, no centro da cidade.. E passamos a fazer turismo.. Foi assim que conheci Recife.. Num outro dia, saímos a almoçar numa rua vizinha ao hotel, e entramos num restaurante ordinário frente ao Teatro do Parque.. Ao meu lado sentou-se um mulato magrelo de cavanhaque e um outro rapaz, a conversarem sobre musica.. Era Naná Vasconcelos e Zé Fernandes, qua faziam parte de um show do Grupo Construção.. Começamos a conversar, e me deu uma vontade louca de um dia fazer um show com aqueles caras.. Como é o destino, anos depois eu voltaria ali, e justamente aconteceria...
Depois de 3 dias no Recife, comendo o possível, graças ao Yan, em meio a muitas gargalhadas, resolvemos voltar a Salvador.. Um sol incrível na estrada, muita poeira, e nada pra comer...
Ao cruzarmos o limite da Bahia, fomos visitar uma fabrica de queijos, e lá nos presentearam com um queijo enorme, redondo, de quase 10 kilos... Foi o que salvou a nossa fome.. Um rebanho de carneiros cortava o caminho.. Descemos do carro, pegamos um animal e a custo o metemos também no fusca, pra presentar a Nilda! O carro estava com um cheiro insuportável: nosso suor, o barro, o carneiro, e o queijo... O maldito carneiro fazia tanto escândalo balindo, que fomos ‘obrigados’ a deixa-lo por ali mesmo... Chegamos na 5ª feira em Salvador, fui pra Bazarte me limpar e ensaiar o show do dia seguinte... Jose Roberto foi direto pra o escritorio ‘consertar’ a semana; Yan foi devolver o carro coberto de lama pra Nilda, que já não sabia que desculpas inventar a Dedeco, seu marido, sobre o desaparecimento do veículo; e o pobre Pitti levou um esporro do diretor João Augusto, e quase não estréia no dia seguinte..
Sexta-feira, no final, tudo deu certo: Pitti subiu feliz ao palco, fazendo o menestrel -“..è todo mundo e ninguém..”- na obra de Gil Vicente; e durante o meu show, me apareceu Nilda, José Roberto e Yan, que muito risonhos, me ofereceram em cena, um pratinho com mais um pedaço do queijo!!!... A visão daquilo, a lembrança e o cheiro.. Ai meu deus, quase vomitei...
Mas depois, saímos no carro limpinho e perfumado, pra mais uma noitada em Salvador...


..festa na casa de Francis Hime:

eu, com Chico Buarque, Francis, Dina e Ruy Guerra...

Rio de Janeiro - 1975

..no Tabaris o som é que nem o Bee Gees, dancei com uma dama infeliz, que tinha um vulcâo nos quadris...

11/09/2006
Ali na Praça Castro Alves, atrás do `Guarani´, estava o ‘Tabaris Nigth Club’!
Era maravilhoso! Era o ‘cabaret’ de Salvador... Na porta uma placa dizia: 'Rigorosamente proibido a entrada de menores de 21 anos'... Mas assisti ali vários shows e bailes, entrando pela porta lateral que dava pro Curriachito, graças aos seguranças e garçons amigos de Rui Benfica... Lá dentro a típica decoração art-decô dos anos 40: ao fundo uma grande orquestra afinada, com maestro, todos de 'smoking'... Cantores (que também atuavam nas Emissoras de Radio) e atrações, todos elegantissimos.. Pelo salão as mesas de clientes, de palitó e gravata, com as mulheres, deusas perfumadas e arrumadas, vestidas de longo, algumas se diziam estrangeiras: polacas, argentinas, francesas... E no centro, a pista de dança, onde se apresentavam as atrações do show... Ah, o Tabaris...
No Curriachito, um beco ao lado do teatro y do Tabaris, vivia, e vive ainda, o costureiro Rui Benfica, que tinha uma 'amiga' altissima e magrinha chamada Cuquita, engraçadissima e sensacional, que fazia imitações de Célia Cruz, meu primeiro contato com a minha ‘reina de la salsa’.

Dos artistas dali, me lembro de Deni Moreira, Ray Miranda, e muito da Terezinha Silva, uma mulata linda, corpulenta, com uma voz imensa, extraordinaria com seu vestido de veludo tomara-que-caia, e que tinha 'caso' com a porteira, uma tal de Rosa, que todas as noites punha comida pras.. baratas!... Terezinha terminou indo cantar em Marrocos e num se soube mais dela. E do Evandro de Castro Lima? Sim, aquele que veio a ser um grande carnavalesco no Rio de Janeiro... As porradas... Evandro de maiô de vidrilho e paitês, cantando, fazendo de vedete, e quando alguém o chamava de “viado” ele se aproximava da tal mesa, e de repente estava armado o auê! Dava porrada em todo mundo e acabava o show! Era um corre-corre, e não tinha 'deixa-disso' que segurasse! Ele era de família ‘bem’, daquela turminha da Barra, junto a Bolinha de Cristal e Chiquito Bengalinha, os mais chiques gays daquelas décadas em Salvador...
Ah, o Tabaris do Sandoval...

E os bailes de Carnaval no Tabaris? Uma loucura.. Muitas mulheres e algumas bichas de maiô (inclusive o Ruy..), os homens enlouquecidos, quilometros de serpentinas, toneladas de confetes, e muita, muita, muita, lança-perfume!
Na frente do Tabaris estava o Teatro Guarani, onde assisti Dulcina, Odilon e Conchita de Morais, em ‘Chuva’, e muito teatro de revista de Walter Pinto, que virou cinema trazendo o cinemascope a Salvador (quando inaugurou, tinha no hall um painel lindo de Caribé), mas foi decaindo, o transformaram até em cine Glauber Rocha.. Num teve jeito.. Hoje é uma das vergonhas do centro de Salvador..
Na pracinha junto ao teatro, e na frente da entrada do Tabaris instalaram o Bar e Restaurante Cacique, onde durante a tarde a juventude toma guaraná, e à noite os intelectuais bebiam cerveja ou conhaque... Tambem não vingou...
O Tabaris, como aconteceu em todo Brasil com as casas noturnas desse gênero, num resistiu ao avanço do progresso e da televisão, e também foi decaindo, fechou definitivamente em 1968, já num existe mais... A pena, é que eu nem sei o fazem agora naquele espaço maravilhoso, de sonhos e grandes noitadas...

Me informam que é MAIS UM espaço cultural... Enfim...


..Aqui vai ficar quente, bicho!

CBS - Rio de Janeiro - 1970

..Rock me, rock you, rock Raul...

10/09/2006
Quando em 1970, num sábado, em meio de uma apresentação minha no programa Poder Jovem, resolvi cobrar o meu pagamento no ar! estava atrazado a mais de 3 meses.. foi um escândalo! A co-produtora Dometila Garrido quase desmaiou, o pessoal da técnica não queria acreditar na que estava acontecendo, os outros artistas chocados, boquiabertos.. O supervisor administrativo dr. Paulo Nacif caiu do salto! Desceu correndo do seu escritório, me pegou pelo braço, levando-me até a saída da estaçâo, e assim, fui expulso da TV Itapoan. Sem trabalho mas com a alma lavada, me mandei pra o centro da cidade, para esperar o resto dos amigos, principalmente Berimbau e Carlos Gazineo, pra saber dos comentários nos bastidores da TV..
De repente, na frente da prefeitura, ali na Praça Municipal, dou de cara com o Raulzito! Eu não o via ha muitos anos.. Estava me procurando: – ‘eu quero falar com você! Estou precisando de um cara como você!’ Me deu um susto.. Meu deus, pra que será que quer uma 'bicha louca' como eu?
Ele agora estava trabalhando como produtor da CBS Discos, e já não tinha o conjunto os Panteras.. Ali mesmo me explicou que queria levar-me para o Rio, para que eu gravasse sob a sua direçâo! Me pegou de surpresa, e claro que aceitei na hora.. Lhe expliquei a inha situaçâo naquele momento, e êle se dispôs a pagar-me a passagem (de ônibus..) ao sul...

A TV me pagou o que devia e em uma semana, estava eu no Rio de Janeiro, fresquissimo, `inocente, puro e besta´, contratado como cantor para CBS, sob a produção de Raulzito.. Foi uma coisa que me surpreendeu muitissimo, porque eu fui o único dos seus amigos da Bahia, que foi convidado para trabalhar com ele! E olhem bem que haviam outros que tinham mais intimidade ou aproximação com ele..
Passei a frequentar a sua casa, e bolar o que faríamos. Raulzito estava casado com a Edith, uma americana muito simpática.. Eu ia muitas vezes jantar com eles em Ipanema e, tinham uma empregada hilária muito `na onda´, que usava uma roupa extravagante que estava na moda com uma “pelerine”.. Imaginem: o calor da zona sul, o Raul de cueca, a Edith de camiseta e bermudinha, eu de camiseta e shorts, e a empregada servindo, chiquíssima, de luva, chapéu de aba larga e envolta na tal pelerine, numa moda que não tinha nada a ver com nada.. Uma cena surrealista! Quando ela se retirava da sala, rolávamos de rir.. Muito...

viernes, 29 de junio de 2007



Bons e alegres tempos em Sampa...

S.P. - 1974

Um Cinema Transcendental...

08/09/2006
Em 1959 eu conheci o Caetano Veloso! Eu trabalhava no campo de Dom João, perto de Santo Amaro, como especialista em petróleo – auxiliar técnico de produção. Sim, sou formado pela Petrobras! Fui passar um fim de semana naquela cidade do Rio Subaé, e passeando por uma rua ouvi o som de um piano.. olhei por uma janela, de onde vinha a musica, e lá na sala estava Caetano tocando 'Nel blu di pinto de blu' (até hoje ele bate que era outra musica)... Ele olhou pra mim e disse: Entre! Claro que entrei. E começou assim minha admiração e amizade por aquele menino, que tinha uma cultura musical muito igual a minha.. Apareceu na sala dona Canô que chamou pra comer beiju.. Daí então, Caetano sempre me convidava para os bailes na Escola Municipal nos finais de semana. Trocávamos as meias: um pé de cada cor, e para dançar só tirávamos as professoras, as mais maduras, só para chocar. E eu ‘fechava’ com o meu lenço (enorme!) de chiffon lilás, e o Caetano dava muita risada e curtia as minhas bichices. Nas décadas seguintes sempre nos encontramos nas festinhas no apartamento da atriz Jurema Pena, na Barroquinha, ou nos teatros da vida. Sempre a gente `enchenco o saco´ dele: “Cae cante o Galo Cocorocô!” (É de manhã).
È uma amizade de décadas. Com o resto da familia a afinidade é a mesma... Bethânia é a minha diva particular.. e os outros irmãos Irene, Rodrigo, são todos gente finíssima...


Reencontro!

Aqui estou com o Waldir `Big Ben´Serrâo e mais o Thildo Gama...

Salvador - 2001

Rock me, Rock you, Rock Raul...

08/09/2006
Quando minha familia migrou a Salvador, me lembro que moramos no Largo da Saúde, depois nas Sete Portas (na frente da nossa casa passava o sujo e nauseabundo Rio das Tripas...), depois mudamos para a cidade baixa, pra Rua da Imperatriz, que fica entre o Bonfim e a Boa Viagem... Nesta fase de juventude o que me influenciava na música eram os artistas da Rádio Nacional e Mayrink Veiga: Orlando Silva, Luiz Gonzaga, Bob Nelson e Ivon Cury e das mulheres, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, depois Nora Ney e Isaurinha Garcia.
Mas estavamos nos meados do anos 50 y imperava o rock-and-roll! E não posso esquecer do 'Elvis Rock Fã Club' que funcionava mais como uma reunião de amigos, aos sábados a tarde na casa de Waldir Serrão.. Ali depois da Boa Viagem, na Avenida Luis Tarquinio, na Vila Operária (que era um conjunto residencial para os empregados da fabrica de cigarroa Souza Cruz), que ainda existe, mas em completa decadencia.. Lá ouviamos os 'rocks' de Litle Richard, de Billy Haley ou Elvis Presley, num volume altissimo de romper tímpanos, pra desespero dos vizinhos... E dançavamos, ensaiavamos passos, piruetas mil.. Foi ali que conheci o Rauzito que tambem fazia parte do clube, e embora morasse na cidade alta (praticamente do outro lado da cidade, e o que dava a entender que era de uma classe social mais alta...) estava sempre ali na casa de Waldir, mas não tínhamos muita intimidade.. Como o Elvis era o idolo principal, naturalmente todos queriam se parecer e vestir como ele.. e ali estava sempre Raulzito ou Waldir, com seus blusões de couro negro, e cabelo com muita brilhantina e topete caindo na testa.. Eu deslumbradissimo com tudo isto... Havia na Radio Mayrick Veiga, no Rio, um programa diario 'Hoje é dia de Rock', mas aos sábados no auditorio, a garotada se apresentava para um publico enlouquecido fazendo dublagem dos 'hits' americanos.. Claro que no nosso clube a febre tambem pegou, e ja não nos reuniamos só pra dançar, tinhamos agora as dublagens! De vez em quando tinha ensaios em minha casa, pra escãndalo da minha mãe que não entendia como 'aquilo' poderia ser dança. E começaram a se apresentar em festinhas, principalmente no SESI (Serviço Social da Industria..).. Mais pra adiante, abandonei o clube, mas o Waldir sempre ousado alugava o Cine Roma e realizava `matinais de rock´n roll´, onde se apresentava toda a turma, dublando e dançando.. Ampliaram as apresentações aos circos e clubes sociais de cidades do interior... Dali do clube da Luis Tarquinio, sairam os cantores baianos de rock, e sempre fui (e ainda sou..) amigo de todos estes expoentes..
Depois vieram os Panteras de Raulzito, Waldir adotou o codnome 'Big Ben'.. Mas isso ja é outra historia..


Com Luana, a Condessa de Noilles..

Sempre minha amiga! Que chic...

Baile das Atrizes - Salvador - 1975

..Quase `Rainha das Atrizes´!

07/09/2006
Agora, concurso para mim foi o de 1975 quando concorri a Rainha do Baile das Atrizes do Teatro Vila-Velha!
Eu estava em Salvador para passar o Carnaval, quando o João Augusto que era o diretor do teatro, me convidou a fazer uma coisa diferente pra promover o baile que andava em decadência.. Daí, resolvemos que eu poderia me candidatar baseado em que nas regras do concurso não havia a especificação de que teria de ser “mulher” qualquer candidato ao posto... Nós nos divertimos muito, porque o populacho não entendeu nada! Até muitos artistas, álém de uma parte da populãção caiu do salto! Inventamos outras pessoas possiveis á coroa, inclusive a Mulher de Roxo (uma famosa figura, que vivia toda vestida de roxo, na porta de uma loja na Rua Chile..), y aprontei escândalos ao dar entrevistas nas TVs e jornais, quando declarava que se por acaso ganhasse iria receber a coroa de palitó e gravata! E ante o juri, disputei com a estonteante Marina Montini! Imagine: um homem disputando uma coroa de Rainha com uma mulher de verdade! Foi um pleito super badalado e o baile desse ano foi um sucesso!
Claro que perdi, tirei segundo lugar... E a Montini foi coroada enquanto o publico gritava meu nome.. Dei uma volta pelo salão carregado, vestido no meu famoso 'macacão de renda negra', num delirio total... Quem passou a coroa foi a Nilda Spenser vestida de ‘Rainha Quiaba – a dona do caruru’, uma espécie de melindrosa toda de quiabos... O máximo!

Que baile! Ai, que Carnaval aquele..

Com 1 ano...
Em 19... sei lá...

Juazeiro, nem chegaste a perceber...

06/09/2006
De Juazeiro, a minha terra, eu não tenho lembrança nenhuma.
O meu pai vem de familia de classe média alta da capital. Trabalhava de escriturario, pertencia ao Sporte Club Santa Cruz y as vezes era juiz de futebol.. E foi apitar varios jogos naquela cidade ribeirinha do São Francisco, ali conheceu e se enamorou da minha mãe, que era ‘cafusa’, e encontrou muita resistência contra essa união, ninguem acreditava que acabaria em casorio... Mas ele foi obstinado e voltou lá para casar-se. E assim, um ano depois nasci eu, e minha família logo se mudou, e viemos para Salvador.
Eu não tenho lembranças daquela cidade e quando pude voltar lá muitos anos depois, constatei pela riqueza de imagens que fez meu pai, que tinha uma paixão por fotos e possuia uma máquina fotográfica – objeto raro nos anos 40 – dos instantâneos de rios, barcos, da feira livre, senhorinhas e paisagens bucólicas da região, que havia mudado muito e perdido o encanto. Mas pessoalmente a cidade não me dizia nada.
Saí de lá muito pequeno para ter do que recordar...
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